O seu gesto constituía uma maneira subtil de não esquecer que também se havia de transformar em pó. (Melville)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Experiência 24: da cidade redundante - para que qualquer coisa se fixe na mente


       (fotografia: GP)
        [Braga -  2012]


Dir-se-ia (n)o cu de Judas, onde o Judas perdeu as cuecas, ou, numa variação tendente para a redundância, onde o Judas perdeu as botas, se ainda as tinha, mas não, fica mesmo aqui ao lado, cinco minutos a penantes do centro engalanado de Braga. São estes vazios, estes despojos, que nos recordam a sabedoria de Marco Polo quando este diz a Kublai Kan:
Talvez do mundo só tenha restado um terreno vazio coberto de imundícies, e o jardim suspenso do palácio do Grão Kan. São as nossas pálpebras que os separam, mas não se sabe qual está dentro e qual está fora. (in “As Cidades Invisíveis”, Italo Calvino)
O que Polo talvez não soubesse é que também esse jardim suspenso e esse palácio um dia desapareceriam. Ou talvez o soubesse. Como escreveu Calvino, a memória é redundante: repete os sinais para que a cidade comece a existir. Talvez seja isso.

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