O seu gesto constituía uma maneira subtil de não esquecer que também se havia de transformar em pó. (Melville)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Experiência 7: "Não acredito em Deus, mas sinto a sua falta"*...?



(fotografia: GP)
[2012]


Um desses dias marcados com a partitura da tristeza. Um desses dias marcados para a tristeza. E ainda assim, não nos lembrámos de retirar a etiqueta aos dias, julgámo-los por cima, de alto, de lés-a-lés, como se fossem certos, seguros, como se fossem declaradamente escritos para nós. Como se nós fossemos os únicos. Cada dia é um dia: único. Cada um de nós é um, ou como se diz por aqui: cada um é como cada qual

*Julian Barnes, in "Nada a temer". 

domingo, 25 de novembro de 2012

Experiência 6: fall


(fotografia: GP)
[2007]


Um entardecer devolve-nos a esperança de que, afinal, tudo imerge na escuridão. Um entardecer é um ainda não sussurrado ao dia, aos dias. Em cada dia. Talvez fosse nisso que ele pensava, anos atrás, quando se debruçou ligeiramente e fixou o momento, aquele momento, numa fotografia. Já não é o mesmo, inevitavelmente, não pode ser o mesmo que escreve estas linhas, noutro entardecer de outro Outono. Na verdade: também no Outono não se aprende a morrer.  

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Experiência 5: janelas


(fotografia: GP)
[Londres - Jan. 2012]


Podemos perder-nos num parque. Podemos continuar perdidos. Podemos ser engolidos por uma multidão em Oxford Street, imaginando De Quincey à procura da sua amada (de facto foram duas). Podemos descer ao centro da terra com um livro de Verne nas mãos, qual paleontólogos de meia-tigela. Podemos roubar carris suficientes para fazer mais um trajecto alternativo Porto-Lisboa. Podemos encontrar o século XIX numa esquina. Podemos facilmente imaginar o Sebald a imaginar-nos algures. Podemos descer a um bar e entrar nas catacumbas da memória. Podemos encontrar um mapa de uma cidade que já não existe. Londres sabe disso. Londres sabe-a toda. 

domingo, 18 de novembro de 2012

Experiência 4: o túnel


(fotografia: GP)
[Braga - Nov. 2012]


A beleza por vezes encontra-se não procurando. Os túneis ensinam-nos a escapatória. A fuga. A passagem subterrânea é uma ponte subterrânea. Os túneis unem. Neles se esconde gente. Neles se encontra gente. Os túneis são tecto. São lugares.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Experiência 3: pelas ruas, ao entardecer


(fotografia: GP)
[Braga - Nov. 2012]


Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício (...)
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

De "O Sentimento dum Ocidental". Cesário Verde

domingo, 11 de novembro de 2012

Experiência 2: sítios de poesia


(fotografia: GP )
[Ponte da Barca - Out. 2012]



Se vós, Musas suaves,
Neste meu triste peito
Algumas ledas rimas inspirastes,
Se, com doces e graves
Acentos, o conceito
Que tinha dentro nele declarastes;
Se vos não desprezastes
De levantar meu canto

Diogo Bernardes (Ponte da Barca – séc. XVI)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Experiência 1: temos andado assim


(fotografia: GP)
[Braga - Out. 2012]
(…) Não as ávidas ruas,
incómodas pela turba e pela azáfama,
mas sim as ruas monótonas do bairro,
quase invisíveis de tão habituais,
enternecidas de penumbra e ocaso,
e as outras mais longe,
alheias, de árvores piedosas
onde austeras casinhas mal se aventuram,
enevoadas por imortais distâncias,
perdendo-se em recôndita visão
de céu e de planície(…)

“As ruas”. J.L. Borges

terça-feira, 6 de novembro de 2012

(...)

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