O seu gesto constituía uma maneira subtil de não esquecer que também se havia de transformar em pó. (Melville)

sábado, 29 de dezembro de 2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Experiência 17: entre linhas








A lei da quadrilha é clara, todos os dançarinos a conhecem, é válida para todos os tempos. Mas um qualquer daqueles acasos da vida que nunca deviam ter acontecido, mas estão sempre a acontecer, faz-te ficar sozinho entre as duas linhas. Talvez isso provoque confusão nas próprias linhas, mas isso não o sabes, tu só sabes da tua desgraça.

In Fragmentos, Kafka

















                           (GP
                                 [Braga -  2012]

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Experiência 15: subúrbios a leste do paraíso



(GP)

[Braga - 2012]


(...)
Esta cidade não tem pássaros – penso com o corpo todo
terá um ou dois e os gatos já não sonham com eles
perdidos numa genética de recluso
Contemplo cães a vaguear idiotia de quem não se recorda
de como é ser cão e quase humano...

in subúrbios e abrigos, Alfredo B.A 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Experiência 14: esquentamento


(GP)
[Braga - 2012]


E deveríamos tornar obrigatório
por decreto municipal
o uso da mulher-tronco para os pobres

in Barnum, Boris Vian.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Experiência 13: encontro(s) desalojado(s) entre o silêncio excessivo


(GP)
[Braga - Nov. 2012]


(...)
Calafetagem por motivo de obras.
É relativamente queda de água
e já agora há muito não é de outra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato.

in "discurso sobre a reabilitação do real quotidiano", Cesariny.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Experiência 12: poesia do invisível


(GP)
[2012]


O primeiro lugar: uma sala de espera da segurança social. O segundo lugar: este onde se recorda uma sala de espera da segurança social. Dois lugares, um livro. E uma imagem dentro de uma imagem. O livro, esse:

Eram os primeiros minutos do amanhecer. Simone pensou que, se nas alturas não havia nada de interessante, teria de o procurar em terra firme. Ou já não precisaria de procurar nada? Ficou na cama espreguiçando-se lentamente, com uma preguiça infinita, a observar as partículas de pó que pairavam num raio de sol dentro do seu quarto às escuras. E foi então que ouviu o grito. Alguém tinha gritado no amanhecer, numa casa próxima, talvez no seu próprio prédio, talvez no seu próprio quarto. Para Simone, foi o mais semelhante a uma catarse, porque sentiu a sensação de que no seu despertar ia existir um antes e um depois daquele grito. Logo a seguir, viu que não seria assim. O grito tinha passado e continuava tudo na mesma, cinzento e monótono como antes. Regressou ao seu tédio e chegou a uma firme conclusão, sem que previamente se tivesse dedicado a procurá-la. A partir daquele momento, enfrentaria directamente a verdade e suportaria o vazio e, por conseguinte, aceitaria a morte. Bem vistas as coisas, pensou, a verdade encontra-se do lado da morte, sempre o disse. Logo depois, voltou às partículas de pó, àquela espécie de poesia do invisível. Irei mais além da preguiça do infinito, disse para consigo. Era essa a sua meta na plenitude do seu magnífico despertar de morta. Porque tinha despertado morta, espreguiçando-se suavemente ociosa, esplendorosa.

“Um tédio magnífico” (in Exploradores do Abismo), Enrique Vila-Matas. Tradução de Jorge Fallorca. Teorema.  

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Experiência 11: alvores

(GP)
[2011]

Não se consegue perceber por que razão as pessoas asseguram não reparar nos sítios por onde passam, mesmo aqueles, sobretudo esses, por onde se cruzam com os dias de forma regular. Acostumados com a expressão passa-nos tudo ao lado, acedemos compreensivelmente ao passa-nos tudo ao lado sobretudo aquilo que nos é (supostamente) mais familiar, mas se assim é, se essa premissa for válida, essas coisas que julgamos familiares, mais não são do que escolhos estranhos que reconhecemos timidamente de passagem. Nem sempre a beleza é para aí chamada, mas certo é perdê-la dando-a por adquirida. Se calhar, às vezes, é preciso parar nas curvas. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Experiência 10: aparências # intimidades


(GP)
[2011]

Se tirarmos as coisas de um determinado contexto, estas poderão assumir outras qualidades, novos aspectos e roupagens, adquirindo vida nova condicionam o espaço envolvente e a nossa interpretação desse mesmo espaço. Acresçam coincidências, o timing certo e um suposto olhar certeiro e teremos uma história com pano de fundo. E sem cenário pré-definido. Resta-nos a ilusão. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Experiência 9: viagem ao país misterioso


(fotografia: GP)
[Whitechapel, Londres - Jan. 2012]


Com licença, vou ali até ao século XIX. Ei, Jack, Jack…Ripper...

domingo, 2 de dezembro de 2012

Experiência 8: rasgão de luz


(fotografia: GP)
[Ofir - Dez. 2012]


o sol enterra-se nas areias.
(…)
tento encontrar espaço para a lucidez do meu silêncio.

Al Berto in "Horto de Incêndio"

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Experiência 7: "Não acredito em Deus, mas sinto a sua falta"*...?



(fotografia: GP)
[2012]


Um desses dias marcados com a partitura da tristeza. Um desses dias marcados para a tristeza. E ainda assim, não nos lembrámos de retirar a etiqueta aos dias, julgámo-los por cima, de alto, de lés-a-lés, como se fossem certos, seguros, como se fossem declaradamente escritos para nós. Como se nós fossemos os únicos. Cada dia é um dia: único. Cada um de nós é um, ou como se diz por aqui: cada um é como cada qual

*Julian Barnes, in "Nada a temer". 

domingo, 25 de novembro de 2012

Experiência 6: fall


(fotografia: GP)
[2007]


Um entardecer devolve-nos a esperança de que, afinal, tudo imerge na escuridão. Um entardecer é um ainda não sussurrado ao dia, aos dias. Em cada dia. Talvez fosse nisso que ele pensava, anos atrás, quando se debruçou ligeiramente e fixou o momento, aquele momento, numa fotografia. Já não é o mesmo, inevitavelmente, não pode ser o mesmo que escreve estas linhas, noutro entardecer de outro Outono. Na verdade: também no Outono não se aprende a morrer.  

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Experiência 5: janelas


(fotografia: GP)
[Londres - Jan. 2012]


Podemos perder-nos num parque. Podemos continuar perdidos. Podemos ser engolidos por uma multidão em Oxford Street, imaginando De Quincey à procura da sua amada (de facto foram duas). Podemos descer ao centro da terra com um livro de Verne nas mãos, qual paleontólogos de meia-tigela. Podemos roubar carris suficientes para fazer mais um trajecto alternativo Porto-Lisboa. Podemos encontrar o século XIX numa esquina. Podemos facilmente imaginar o Sebald a imaginar-nos algures. Podemos descer a um bar e entrar nas catacumbas da memória. Podemos encontrar um mapa de uma cidade que já não existe. Londres sabe disso. Londres sabe-a toda. 

domingo, 18 de novembro de 2012

Experiência 4: o túnel


(fotografia: GP)
[Braga - Nov. 2012]


A beleza por vezes encontra-se não procurando. Os túneis ensinam-nos a escapatória. A fuga. A passagem subterrânea é uma ponte subterrânea. Os túneis unem. Neles se esconde gente. Neles se encontra gente. Os túneis são tecto. São lugares.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Experiência 3: pelas ruas, ao entardecer


(fotografia: GP)
[Braga - Nov. 2012]


Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício (...)
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

De "O Sentimento dum Ocidental". Cesário Verde

domingo, 11 de novembro de 2012

Experiência 2: sítios de poesia


(fotografia: GP )
[Ponte da Barca - Out. 2012]



Se vós, Musas suaves,
Neste meu triste peito
Algumas ledas rimas inspirastes,
Se, com doces e graves
Acentos, o conceito
Que tinha dentro nele declarastes;
Se vos não desprezastes
De levantar meu canto

Diogo Bernardes (Ponte da Barca – séc. XVI)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Experiência 1: temos andado assim


(fotografia: GP)
[Braga - Out. 2012]
(…) Não as ávidas ruas,
incómodas pela turba e pela azáfama,
mas sim as ruas monótonas do bairro,
quase invisíveis de tão habituais,
enternecidas de penumbra e ocaso,
e as outras mais longe,
alheias, de árvores piedosas
onde austeras casinhas mal se aventuram,
enevoadas por imortais distâncias,
perdendo-se em recôndita visão
de céu e de planície(…)

“As ruas”. J.L. Borges

terça-feira, 6 de novembro de 2012

(...)

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