O seu gesto constituía uma maneira subtil de não esquecer que também se havia de transformar em pó. (Melville)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Borra de café e um silêncio mal cozinhado


Valença do Minho, 31-01-11

Segundo o senhor que me serviu o café em chávena portuguesa, Valença “tem muitos bancos”. De resto, ali ao lado, parece que é Espanha. Facto que se nota mesmo sem qualquer fronteira riscada, enquanto se lobrigam edifícios mais ou menos inúteis, ruínas novíssimas não se sabe bem de quê, nem para quê. Enquanto isso, supõe-se algures uma fortaleza que reduz tudo a um paradoxo e a uma passagem: por exemplo, um rio.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Restos de 2010 a Sul

Santiago do Cacém: Março 2010

Santiago do Cacém: Março 2010.


Apesar de tudo um aroma a mar: além, a Oeste, fica Sines, a cidade planeada permanentemente adiada. O porto estratégico, a solução industrial. Debalde.
Fiquei-me por Santiago. Enquanto aguardava que o trabalho me devolvesse à contramão da vida, vagueei primeiro pela parte mais recente da cidade, a que fica no sopé de um pequeno monte onde pontifica ainda o castelo e parte da cidade antiga. Rapidamente ficou demonstrado, pela quantidade de automóveis que subjugavam esta parte da cidade (e a outra também), que a modernidade assentou arraiais definitivos por estas bandas.
Na fuga que se seguiu em direcção ao castelo (cujas origens remontam ao século XII) e cidade antiga, pensei que talvez este tempo coalhasse os cérebros das pessoas, tornando-as simultaneamente vítimas e carrascos da ausência de memória e de um presente que julgam eterno e acabado: em suma, único.
Depois o telefone terá tocado: “Estou cá em cima” – lembro-me de ter respondido.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Restos: lá fora


CaixaForum Madrid, Outubro 2010

Previsível, geométrica, jovem. Nada de movida nem de má vida que não soubéssemos. O ruído do centro nocturno alertava-nos, a cada momento, para algo de pindérico, para não dizer bronco. E depois os museus e alguns parques como o do retiro. E depois a residência de estudantes que não visitamos, claro. O Salvador Dali em cada esquina inventada: e até numa exposição na CaixaForum com o Federico García Lorca.

Ainda assim, fumava-se em qualquer lado…

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Feridas profundas


Landim (V.N. de Famalicão) - Janeiro 2011

Fico sempre perplexo quando (ainda) percorro alguns concelhos do Minho, entre outros, claro está. Existem estradas que são vilas e estradas que são cidades. Corredores que trespassam os povoados sem princípio nem fim; delimitações javardas de supostas zonas industriais e arremessos de campo misturados com fancaria urbana. O espaço rural mitiga-se e apaga-se em encruzilhadas de bouças, ruelas e áreas comerciais avulso. Ao longe, uma agricultura recortada pela história do minifúndio e das famílias, com resmas de estufas a recordarem-nos que as estações se tornaram uma encruzilhada sem sentido.

Alguma beleza, e uma ferida profunda.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Do esqueleto maduro da memória que perdura na torrada e no chã matinal

Barcelos: o galo junto à igreja Matriz e Paços dos Duques de Barcelos (26-01-11)




Barcelos: O galo em frente ao Museu de Olaria (em obras...) - (26-01-11)


O galo de Barcelos nas Meirinhas, Pombal, (Janeiro 2011)


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Périplo interrompido



Porto (perto da ponte do Freixo), Madrugada , 24-01-11


Leiria, Rua Acácio de Paiva (insigne poeta), 24-01-11


Leiria, Praça Rodrigues Lobo, 24-01-11

Não sei bem como, mas deambulava anarquicamente junto à Sé de Leiria, talvez por causa do Eça de Queirós, mas provavelmente nem por isso. O Eça terá estendido a sua indolência por esses lados, supostamente provincianos à época, ali, bem o sabemos, junto à Rua da tipografia.

Anos atrás (alguns), passei três dias na cidade de Leiria, recordo-o agora, com o intuito de conhecer melhor a cidade e sobretudo o seu castelo e arrabaldes. Relembro sobretudo uma manhã de Sábado ou Domingo, já não sei, em que num passeio (com café) na Praça Rodrigues Lobo nos deparamos com uma pequena feira de velharias com livros à mistura, hoje muito em voga, segundo parece. Entre outros, adquiri (emocionado) os “ Princípios de Geografia Humana”, do Vidal de La Blache, Edições Cosmos de 1946, pela módica quantia de 1 (um) Euro. Para um tipo com nome de cabeleireiro, nada mau.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Dia Z


Braga, 23-01-11
Dia de eleições. Dia de rosca. Dia ZZZZZ.
Seguimos pelo atalho.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Restos de 2010


Pombal, 30-12-10

Em Pombal chovia. Depois de Matos da Ranha, suspirava-se por um almoço. “É por ali mesmo” – devo ter pensado. Da ementa um bacalhau espiritual esquecível e uma frase lateral: “Andam a mamar em nós”. Vale a pena pelo castelo .



Miramar: Dezembro de 2010


Ao longo do caminho-de-ferro um vendaval de recordações assaltou-me. Gosto de estações de comboio e de apeadeiros, para que conste. Além, um condomínio fechado. Parece que havia um objectivo.

E depois o mar.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um almoço corrido

Martingança, concelho de Alcobaça: recentemente

Estava quase lá. E depois almocei um arroz de tomate sequíssimo com duas patelas de peixe frito a tiracolo. O palato esqueceu…

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Perto da estrada nacional 14


Maia:19-01-11

Por um caso começa assim. Para mim Maia, muitos anos atrás, foi uma festa gótica nocturna, desenrolar vivencial de uma pequena viagem. Estava por lá um brasileiro de São Paulo que nos revelou que o Brasil não era apenas samba. Parece que São Paulo já tinha um grande metro e era um sítio onde aconteciam coisas. Muitas coisas: como na Europa. Mas nós ainda não seríamos essa Europa.

A Maia, hoje, parece-me uma longa estrada com coisas à volta, algo indefinível e, com sorte, parte de um filme americano

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Prelúdio


E se tu soubesses desse aneurisma vago

[Sentado no sofá]

Se tu soubesses

Que o teclado ressoa a madrugadas engendradas

Nas marés antigas da insónia...