O seu gesto constituía uma maneira subtil de não esquecer que também se havia de transformar em pó. (Melville)

domingo, 24 de julho de 2011

Austerlitz

É claro que a fachada principal da gare de Austerlitz, eventualmente, daria uma fotografia interessante. O problema quando se chega à gare é saber onde encontrar seja o que for: as linhas de metro correspondentes; as linhas do comboio RER (comboio urbano) ou as linhas de comboio regional e nacional, dado o gigantismo e o emaranhado de cais dispostos em vários andares. Construída em 1840 e ampliada nas décadas de 1860 e 1870, interessou-me pelo seu belíssimo nome - devendo-o a uma batalha ganha por Napoleão em Austerlitz (hoje Slavkov u Brna) na República Checa, também conhecida por Batalha dos Três Imperadores – e por um livro homónimo de W.G. Sebald. Em “AUSTERLITZ” de Sebald, Austerlitz chega à gare de Austerlitz vindo da Bastilha e entra, segundo creio, literalmente pela fachada superior de uma das partes do edifico. Talvez esta.

Uma perspectiva da Gare de Austerlitz, Paris (Julho 2011)

A gare é hoje uma amálgama de estilos com telhado e estrutura novecentista. Não sendo um lugar hostil, transmite-nos uma sensação de inquietude, dir-se-ia inexplicável. Mas tudo se torna mais fácil depois de um longo passeio ali ao lado no Jardin des Plantes, ou por contraste, após um passeio junto ao complexo composto de 4 edifícios que constituem a nova Biblioteca nacional de França, ou Bibliothèque François Mitterrand, inaugurada em 1996, conjunto esse que, pelo seu gigantismo e manifesta fealdade, dificilmente se imagina como um corpo que albergue livros no seu interior, eventualidade que não conseguimos contrariar, após quilómetros de fainas em seu redor. Austerlitz, também andou por aqui. E passeou, segundo creio recordar, com uma senhora no Jardin des Plantes. Austerlitz é a demanda da memória. Austerlitz poderíamos ser nós.


Biblioteca François Miterrand, Paris (Julho 2011)

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