[Braga - 2012]
Dir-se-ia (n)o cu de Judas, onde o Judas perdeu as cuecas,
ou, numa variação tendente para a redundância, onde o Judas perdeu as botas, se
ainda as tinha, mas não, fica mesmo aqui ao lado, cinco minutos a penantes do
centro engalanado de Braga. São estes vazios, estes despojos, que nos recordam a
sabedoria de Marco Polo quando este diz a Kublai Kan:
– Talvez do
mundo só tenha restado um terreno vazio coberto de imundícies, e o jardim
suspenso do palácio do Grão Kan. São as nossas pálpebras que os separam, mas
não se sabe qual está dentro e qual está fora. (in “As Cidades Invisíveis”,
Italo Calvino)
O que Polo talvez não soubesse é que também esse jardim
suspenso e esse palácio um dia desapareceriam. Ou talvez o soubesse. Como
escreveu Calvino, a memória é redundante:
repete os sinais para que a cidade comece a existir. Talvez seja isso.